Construção de combinações em sala de aula

No íncio do ano ao me apresentar para turma, conversei com os alunos e comentei sobre a importância de combinações para que todos pudessem conviver em um ambiente de respeito e amizade. Passados aproximadamente, dois meses senti a necessidade de registrar de forma efetiva tais combianções. Foi assim que os alunos do segundo ano construíram suas prórpias regras após muito díalogo, reflexão e acordos.

Dentro de uma sala de aula é possível perceber o quanto os alunos evoluem no sentido de aprimorarem suas relações interpessoais, mas penso que o professor tem papel fundamental para que os educandos compreendam o quanto é importante cultivar o respeito no cotidiano escolar. No texto de Liseane Silveira Camargo - Reflexões sobre a moralidade na escola encontramos:
"[...] " A escola assume esse compromisso. Um ambiente que reúne grupos, que possui relações de respeito e que tem como fundamento a educação tem a necessidade de saber o quanto contruibui para o desenvolvimento moral dos seus alunos - pois esse desenvolvimento também é parte da aprendizagem."
Depois de muito diálogo, exemplos de situações a também de reflexões as combinações da turma 20B foram construídas de forma muito colorida e caprichada, todo trabalho foi exposto no mural da sala de aula com muito orgulho pelos alunos, até a diretora foi chamada para ler, o que foi acordado por eles (alunos).
Para Fávero(2005, p.24-25) "A criança precisa viver situações em que sua autonomia seja fatalmente exigida. Um bom exercício é a organização de regras coletivas, que exigirão entendimento, acordos e aprovação recíproca."
Para exemplificar ,abaixo listo algumas combinações feitas pelos alunos da turma 20B:

- Não vale beliscar os colegas.
- Não vale gritar em aula.
- Não vale falar palavrão.
- Não vale levar celular para escola.
- Não vale brincar em aula.
- Não vale brigar.
- Não vale chutar os colegas.
- Não vale mostrar o dedo do meio.

A importância do trabalho em grupo

Desde o começo deste ano organizei minha sala de aula de modo em que os alunos trabalhem em grupos de quatro alunos, sentados uns de frente para os outros compartilhando e fazendo trocas de saberes e também de objetos materiais. Alguns alunos trabalham muito bem desta forma e em qualquer grupo que são inseridos eles apresentam muita facilidade em relacionar-se e também em fazer trocas e compartilhar com os colegas, já por sua vez, outros alunos não conseguem de maneira alguma trabalhar desta forma, pois sempre arranjam problemas e apresentam muita dificuldade em colaborar e se submeter as ideias dos colegas. Já por outro lado fico muito feliz quando observo um outro grupo formado por quatro alunos todos estão na fase silábico-alfabética, ou seja , ainda não sabem ler e também escrevem pouco, mas são solidários uns com os outros em tudo. Os que sabem mais ajudam os que não sabem, trocam ideias, conversam sobre as atividades de aula e solucionam problemas utilizando estratégias próprias, eles cooperam uns com os outros e percebo um crescimento em suas aprendizagens. Todos neste grupo sentem-se muito bem, pois ninguém critica nem é criticado, todos estão aprendendendo e os erros fazem parte da aquisição de novos saberes. Como diz Piaget:

O self-government é, segundo esse autor, “um procedimento de educação social que tende, como todos os outros, a ensinar os indivíduos a sair de seu egocentrismo para colaborarem entre si e a se submeter a regras comuns.” (PIAGET, 1934/1998: 126)

É apenas no trabalho em grupo que essa construção é possível. A auto-regulação grupal surge da experiência com as atividades coletivas e no que se refere à educação moral “o self-government contribui para desenvolver ao mesmo tempo a personalidade do aluno e seu espírito de solidariedade.” (PIAGET, 1943/1998: 126)

Acredito nesta maneira de trabalhar com os alunos, por este motivo, vou continuar insistindo por mais que às vezes pareça que não vai dar certo .Já consigo ver resltados positivos não somente para o grupo citado acima, mas na conquista da troca entre os pares, na cooperação, na construção de regras para a realização das tarefas de aula e também no desenvolvimento do espírito de solidariedade que brota com as experiências vivenciadas, a partir dos trabalhos em grupo.

Interação entre os pares

Os alunos da turma 20B estão em formação e por este motivo, esta experiência com Projetos de Aprendizagem é tão válida, pois a cada encontro novos desafios aparecem e eles mesmos precisam de alguma maneira resolvê-los, criando estratégias próprias, regras e também abrindo o diálogo entre eles para que o trabalho continue.
Os alunos estão divididos em sete grupos para realizarem os PAs, o grupo número um é formado por três meninas que brigam muito e discutem sempre para ver quem senta à frente do computador e tudo é motivo para discussão. Em um dos primeiros encontros do grupo a briga era acirrada então elas me chamaram para "resolver" tais questões. Todas falaram e contaram seus pontos de vista, ouvi e disse:
- Gurias, temos que achar uma saída todas vão continuar trabalhando juntas e temos que pensar em uma maneira para continuar o trabalho, visto que, só tem um computador e três pessoas precisam usar. O que vocês vão fazer para resolver o problema? Então elas pararam e começaram a pensar o que fazer para que todas usassem o computador de forma justa e organizada. Pensaram,falaram, discutiram, falaram novamente, discutiram muito e eu esperando a ideia brilhante para resolver o impasse. Enfim, surgiu a "ordem alfabética" e foi assim que a partir daquele dia o grupo um estabeleceu seu critério para uso do computador. As brigas ainda existem, mas não por este motivo,e o trabalho das meninas está ficando ótimo. Trabalhar com Projetos de Aprendizagem, é sem dúvida, um desafio tanto para alunos como também para o professor, pois esta escolha metodológica leva os pares a estabelecer vínculos e também a desenvolver atitudes de solidariedade, cooperação e resolução de conflitos, três atributos importantissímos para a vida futura dos estudantes.

" É a partir da Educação das crianças que uma sociedade projeta o seu futuro. Esse futuro pode ser baseados tanto na solidariedade e na cooperação como no egoísmo e na competição." (MATURANA, 2002)

Aprendizagem

"HOMEM CONSTRÓI O SEU CONHECIMENTO NA SUA RELAÇÃO COM O MEIO"
(Jean Piaget)

Durante a semana que passou iniciei com os alunos da minha turma a construção dos PAs, foi uma experiência significativa para todos os participantes do processo de ensino-aprendizagem. Nossa ida ao laboratório de informática da escola demonstrou claramente que sem dúvida o conhecimento é construído quando o sujeito interage com o objeto de aprendizagem e constrói novos conhecimento a partir desta interação. Chegamos ao laboratório e tudo era novo para os alunos, o pbworks com as páginas de cada grupo e os temas que foram escolhidos para investigação e pesquisa. Após algumas explicações os pequenos alunos começaram a trabalhar no pbworks e ao digitar, suas primeiras postagens na referida página começaram a manter uma relação com o objeto (computador) e através da curiosidade e das trocas entre eles, neste dia muitas coisas novas eles aprenderam. Cada grupo deveria postar o nome de cada componente do grupo e também o que já sabiam sobre o tema escolhido para desenvolvimento dos PAs. As perguntas foram surgindo:

_ Professora como faço para aumentar a letra?

_ Professora gostaria de trocar de cor como faço?

_ Nosso grupo gostaria de colocar uma foto aqui, como faz?

Passei em todos os grupos e dei explicações e eles começaram a mexer na barra de ferramentas do pbworks, e depois de um certo tempo todos os grupos já haviam mudado de cor suas letras, alguns aumentado de tamanho e um grupo conseguiu postar uma foto o que os deixou imensamente contentes. O tempo passou muito rápido naquele dia os alunos não queriam mais parar de escrever, procurar imagens , sairam felizes com tudo o que aprenderam. Percebi que alguns alunos tiveram dificuldade em dividir o mesmo espaço e o tempo no computador, discutiram bastante, alguns criaram regras para o uso de forma justa para todos, enfim, foram momentos muito prazerosos e de grande significado.